Rua de declive positivo acrescenta obstáculo à jornada que matinal se inicia à entrada da alameda. Vagueio como micróbio na calçada epidérmica de uma cidade que me é estranha. Frenéticos movimentos se tornam assimétricos ao recatado viver que tomo para mim. Estranho tudo o que por mim passa. Vivo a cidade por baixo, de metro, escondem-se-me as belezas a que anseio, as visões, na escuridão de uma linha que me liga entre dois pontos. Dois pontos fixos, fechados na margem finita de duas chavetas. Margem que trespasso com um chip magnético de um cartão que me permite gloriosamente desfrutar da beleza estética do preto misturada com o ruído da carruagem que me leva ao ponto finito. Sempre tive dificuldade em cingir-me a conjuntos finitos. Evaporo-me modulado em frequência, que em amplitude modulado me deformaria mais ainda, à infinidade de pontos que quero percorrer.
A atmosfera solarenga raia UVAs para me destabilizar. O electrão que sou já está fora da área a que é permitida ao núcleo fazer-se sentir. Mas o núcleo sinto-o ainda e estou distante. Saudades do que perdi. Do que estou a perder. Saudades do que vou perder. Ainda que a priori viva em relação ao futuro, projecções faço a todo o instante. Cálculos sem numérica resposta, mas de sonhador pensamento me levam gravitando ao futuro. Haverá uma relação congruente do que sonho com o que me reserva o futuro?
A liberdade que sinto, que me deixa tocar nos infinitos, é sinal de não programação do que sou. A recursividade faz-se em condições de desconhecida natureza das causas. Os resultados das condições não imperam no resultado de mim. Não há sinais de igualdade para mim. No máximo, congruências de módulo infinito. Não posso ser determinado, não posso viver em domínio infinito entre paredes finitas como as de uma função seno.
Sonho com a imagem que me olha do espelho, que me pisca o olho sem sorrir. Que me manda ignorar a lógica axiomática que não tem interesse senão dentro das paredes que me constroem o profissional futuro. Que me envia a electromagnética onda que contém em mensagem a fórmula de Gauss que me permite descodificar as variáveis indesejadas na rotina. Que me envia a imagem corporal que sou, desejada pelos olhares entrecruzados a que não pertenço. Não pertenço.
Sou Homem em Macondo.
Ou noutro lugar ficcionado qualquer.
Cem anos de solidão me esperam antes do sono final.
2 comments:
álvaro de campos e/ou sensacionismo
novimoderno?
Gostei de (novamente) o ler. Com a evocação de Gabriel García Márquez.
Abraço.
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