Há um pó que se levanta de quando em vez e que sufoca quando entra pelas narinas adentro, segue o tracto respiratório, sendo como que ricochetado por uma valente tossidela representativa da vontade de continuar o bom funcionamento fisiológico, aquilo que metaforicamente poderia chamar da vontade de viver de um organismo atacado.
Encontrei-me sozinho atacado por esse pó areoso num deserto que persisti em não querer conhecer.
A vontade de tossir fez-me levantar, enfrentar o areal sem fim. Por mim morria já ali, com uma polidipsia latente e um suor que a disfarçava. Mas houve qualquer coisa externa à minha vontade que me fez prosseguir.
Diria Sartre que a minha situação é igual à de toda a gente, abandonado no deserto, desprovido de um olhar exterior que me desse um sentido.
Diria Nietzsche que ninguém no mundo estaria em melhor posição que eu. Porque há um mundo novo a construir todos os dias e estar abandonado num deserto faria com que eu tivesse que procurar soluções a toda a hora para lhe sobreviver.
Caminhei.
O areal seco foi-se transformando em areal banhado pelo mar. Não sei o que estará pela frente, atrás restam as minhas pegadas.
- Coisas que se vão descobrindo e ainda não se podem dizer.
- Mas que se percebem.
5 comments:
Diria eu que o pó vai assentar.
:)*
nao sei como nem quando, mas vai :)*
pedro
obrigada pela sua visita.
pior seria não ter consciência do pó... assim, é apenas mais uma etapa para a evolução individual.
bs, alma
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- Coisas que se vão descobrindo e ainda não se podem dizer.
- Mas que se percebem.
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:)
"...não se podem dizer.
- Mas que se percebem."
Infelizmente nem toda a gente percebe... Há quem precise de dizer e de ouvir. Sim, dizer. Não sentir.
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