Saturday, March 21, 2009


Há um pó que se levanta de quando em vez e que sufoca quando entra pelas narinas adentro, segue o tracto respiratório, sendo como que ricochetado por uma valente tossidela representativa da vontade de continuar o bom funcionamento fisiológico, aquilo que metaforicamente poderia chamar da vontade de viver de um organismo atacado.
Encontrei-me sozinho atacado por esse pó areoso num deserto que persisti em não querer conhecer.
A vontade de tossir fez-me levantar, enfrentar o areal sem fim. Por mim morria já ali, com uma polidipsia latente e um suor que a disfarçava. Mas houve qualquer coisa externa à minha vontade que me fez prosseguir.
Diria Sartre que a minha situação é igual à de toda a gente, abandonado no deserto, desprovido de um olhar exterior que me desse um sentido.
Diria Nietzsche que ninguém no mundo estaria em melhor posição que eu. Porque há um mundo novo a construir todos os dias e estar abandonado num deserto faria com que eu tivesse que procurar soluções a toda a hora para lhe sobreviver.

Caminhei.
O areal seco foi-se transformando em areal banhado pelo mar. Não sei o que estará pela frente, atrás restam as minhas pegadas.

- Coisas que se vão descobrindo e ainda não se podem dizer.
- Mas que se percebem.

5 comments:

Alma said...

Diria eu que o pó vai assentar.

:)*

freespirit said...

nao sei como nem quando, mas vai :)*

almàjanela said...

pedro

obrigada pela sua visita.

pior seria não ter consciência do pó... assim, é apenas mais uma etapa para a evolução individual.

bs, alma

AnaB said...

«
- Coisas que se vão descobrindo e ainda não se podem dizer.
- Mas que se percebem.
»

:)

Anonymous said...

"...não se podem dizer.
- Mas que se percebem."

Infelizmente nem toda a gente percebe... Há quem precise de dizer e de ouvir. Sim, dizer. Não sentir.