Wednesday, December 20, 2006

Despertei, um dia...

Despertei, um dia, para a fugacidade da vida.
Vi em sonhos um mundo belo,
Aprazível, solidário, idealista.
Um mundo em que todos se amavam,
Em que guerras eram o impossível,
Onde o stress e a depressão não existiam.
Onde reinava a calma, a harmonia, a música…
E que linda que era a música!
Tinha um timbre que apaixonou os meus ouvidos,
Que enfeitiçou os meus sentidos,
Que me forçou a fechar os olhos e a sentir…
Apenas…
A música ensinava-me, naquele sonho, a viver bem,
A pôr de parte os meus problemas.
Os problemas são demasiado racionais para a vida que temos.
A vida tem que ter brilho
E eu encontrei-o nesse sonho.
Sonhava que corria numa rua do século XVIII,
Onde sentia o perfume romântico dos líricos daquele tempo.
E, como estava no sonho, podia o que eu quisesse!
Mudava o meu rumo, remava em Veneza,
Voava em Itália… que país… que cidades… que beleza!
Oh arte italiana!
Inspira-me para sempre!
Não só tu… peço ainda ajuda ao génio trágico grego!
Quis entrar no Olimpo, ouvir a música de Apolo,
Passear pelas florestas com Artemis,
Viver os impulsos de Diónisos,
Sentir o poder de Zeus e o génio maléfico de Hades,
Render-me à sedução de Afrodite,
Causar inveja a Hera e banhar-me com as ninfas...
Sentir, por fim, a fatalidade do destino sobre mim!
Mudei, então, de direcção… quis penetrar no Universo,
Observar a partícula divina e desvendar os seus mistérios.
Ao pensar, as emoções intensificaram-se, tornaram-se exageradas,
Transformaram-se… deixaram de ser emoções
E tornaram-se sentimentos sérios.
Foi nesse momento que…

Despertei, um dia, para a fugacidade da vida.

E acordei maldisposto, porque estava a gostar do meu sonho
E obrigaram-me a sair.
A enfrentar a indelicadeza de uma vida triste,
Demasiado severa, demasiado racional, exageradamente rápida.
Fui obrigado a tentar perceber tudo!
O Real, como verdade absoluta e pura, era-me imposto,
Como se fosse o maior dos pecados mortais o não entender.
E, no final, de que me servia saber o que era o absoluto?
Saber o que era a essência das minhas imagens?
E mais! Eu era um fútil se não quisesse entender.
A vida estava a começar a cansar-me.
Seria problema meu ou da vida em si?
Perguntaram-me, um dia, qual era o sentido da minha vida.
Olhei essa pessoa e não consegui resposta…
Respondeu-me com frieza:
“Tens que encontrar o sentido da tua vida se queres ser feliz!”
Por longos dias reflecti nestas palavras e pensei…
Qual era o sentido da minha vida?
E chorei… porque não o encontrei.
Não conseguia ver em Deus um sentido,
Mas apenas uma aspiração à perfeição.
Mas, se tantos havia que em Deus encontravam o seu sentido,
Porque não eu? Porquê esta minha angústia de solidão forçada?
Relembrei, então, o meu sonho…
Lembrei a música de Apolo e os impulsos de Diónisos.
Talvez estivesse aí o sentido da minha vida…
Apenas em sentimentos, em memórias rendilhadas,
Embebidas no cálice do prazer!
Mas rapidamente desisti…
Os sentimentos levavam-me onde eu quisesse
E o sentido tem um caminho definido,
Logo, os sentimentos não podiam ser o sentido da minha vida.
Descobri, no terror da noite, nas minhas visões enubladas,
Uma realidade que me deixou petrificado!
A minha vida não tinha mesmo sentido…
As lágrimas escorreram-me pela cara,
Gota por gota, estava a perder a vontade de viver.
Afinal, tinham-me dito:
“Tens que encontrar o sentido da tua vida se queres ser feliz!”
E eu não o encontrei…
Pior! Descobri que não tinha!
Foi nesse momento que…

Despertei para a beleza da vida.

Se a minha vida não tinha sentido, então,
Nada eu era obrigado a fazer!
Quando percebi isto, a mágoa que me tomara o corpo
Metamorfoseou-se repentinamente numa euforia que não quis controlar.
As lágrimas transformaram-se no suor das minhas correrias,
Do meu estado efusivo e descomprometido.
Desceu sobre mim toda a tragédia romântica,
Que me envolveu na fatalidade do meu destino,
Não para me aprisionar para sempre,
Mas para me libertar…
Para eu me dar conta que é através da angústia existencial
Que damos valor a nós próprios,
Que descobrimos que o sentido das nossas vidas,
Afinal, somos nós próprios!
E que não o podemos descobrir
Apenas porque não conseguimos olhar de frente para nós,
Olhar-nos nos olhos, ver o nosso sorriso, captar a nossa individualidade.
Planeei, nesse momento, a minha vida de outra forma,
O sonho era tão possível como real,
Podia vivê-lo aqui bem acordado, senti-lo…
Era a minha purificação final, porque no sonho não há pecado.
E se o há, lá deixa de o ser, porque as regras são as minhas.
Vi, de novo, a pessoa que me tinha questionado e repetiu:
“Então? Qual é o sentido da tua vida?”
Respondi: “Sou eu!” e ficou incrédulo a olhar para mim.
Pediu-me uma explicação e disse-lhe:
“Num terror de noite, adormeci com um pesadelo na cabeça.
Estava a ver tudo escuro num ambiente silenciosamente arrepiante.
Quando me deparei com a minha campa,
Senti que estava morto para a vida, porque não tinha um sentido.
Ergui-me e fiz com que lá inscrevessem
– Cultiva-te na música! –
E ressuscitei. E foi nesse momento que…

Despertei para a beleza da vida!”

6 comments:

Unknown said...

Bem, nem sei bem o q dizer. Criticar um texto desses é impossível, tentar corrrigir alguma coisa é impensável...só t posso dizer que 'tá lindo. Se todos pensassem como este texto acho q o mundo era um sítio bem melhor...n fugi a regra...mas n tenho mais como descrever, pk ta fantástico!!

freespirit said...

sabes... considero o momento em k escrevi este texto como um dos triunfais da minha vida. saiu-me tudo em 15 ou 20 minutos, como se o tivesse já decorado.
e sempre k o leio tento abstrair m do facto de ter sido eu a escrevê-lo.

obrigado pela visita!

bjt

Anonymous said...

ola ola..tns um blog espectacular :D tive ca uma sorte com o meu explicador :P loool
continua assim ta muito bem :)

freespirit said...

para a próxima leva-me dúvidas!
se não, tens que me chamar outra coisa que não... explicador.

:-)

Anonymous said...

mesmo que te leve duvidas posso t chamar de outra coisa nao posso? Sera que já te posso chamar de amigo? ou preferes mesmo pedro?

:]

xauzito

freespirit said...

chama-me pedro.
sou teu amigo na mesma
;)
bjt