Wednesday, June 27, 2007

Coração de papel pintado de tinta camuflante

Meu coração de papel pintado de tinta camuflante, que tapa aquilo que não quero ver, mas sei o que é. Pedaço do que fui, agora tento ser, alguém me diga quem sou, que fulgor é este que me vem de dentro e que me sai em lágrimas, pendentes nuns olhos que não sabem o que vêem ou pelo menos assim fingem ser, húmidos de um choro interminável, cascata de desilusão existencial; os braços descaídos, impotentes, amorfos, que não sabem o que levantar; o ar, esse, levanta-se sozinho, disperso, sem choro, como se a força lhe viesse de tudo, e nem o pouco que lhe levo em cada inspiração ofegante o desanima, ele é de todos e de cada um e nós todos somos dele, e mesmo dessa maneira aí anda ele, disperso, sem choro, seco.
Meu coração de papel pintado de tinta camuflante, que não esconde o temor em cada batimento. Quando vem a noite é difícil não chorar, a minha vida é um choro, o choro é a minha vida. Que alguém me ampare as lágrimas que me saem deste coração de papel amachucado, vazio que transborda o tudo que sou, a angústia que sobra em mim, essa não foge com o rio que me flui das vistas. Quem me bate à porta e me encontra nesta rua sem morada em que habito, quem me escreve uma carta a certificar-me que há vida fora da minha bolhinha, quem vem com fogo na mão incendiar este coração de papel, e mostrar-me o que está por baixo? Quem me mostra o que está por detrás do pano?
Meu maldito coração de papel!


O Senhor Lágrimas
Fábio Santos

1 comment:

carina santos said...

ja sabes muito bem a minha opinião... gosto bastante do que escreves mas este é talvez o que gosto mais....e se "abrisses mais o teu coração?"
bjinhs da tua manita