Wednesday, April 4, 2007

Espelho sem reflexo

A minha alma é feita de um pano cheio de buracos. Numa noite de céu estrelado, deitado sobre a relva, a ser abraçado pela natureza no seu estado puro e enquanto mirava os astros, surgiu-me a maior e mais complicada dúvida de toda a minha vida: o que sou? E ao decidir não descansar até saber a resposta, o meu corpo entrou em plena exaltação, ao ver uma oportunidade de combater o (muito) tédio do meu quotidiano.
No dia seguinte comecei a minha demanda, a minha cruzada. Mas como começar? Não queria ouvir, mais uma vez, que sou o resultado de uma brilhante expressão dos meus genes ou se sou o fruto de uma criação divina, de um Deus que nunca tive o prazer de conhecer. Estas eram respostas para o meu “eu” físico, orgânico. Não eram as respostas que pretendia. Eu queria saber o que verdadeiramente era o “eu” vivo e racional, agente de um espaço e de um tempo. Decidi perguntar às outras pessoas o que eu era, pois são os outros que nos moldam e limitam e como seres também racionais, deveriam saber dar uma resposta. Perguntei, questionei, argumentei, confidenciei. Algumas pessoas ignoraram-me, outras olharam-me com desconfiança, outras chamaram-me doido e as poucas que me tentavam responder, criavam um discurso vazio e falacioso. Portanto, nada de respostas.
Um dia, ao voltar para casa cansado, reparei num pequeno lago que reflectia a luz do sol. A minha mente iluminou-se num rasgo e comecei a correr desenfreadamente até casa, rogando pragas ao universo por, no meio de tanta perfeição, não ter notado que o Homem, que tudo pode ver, não se consegue ver a si próprio. Cheguei a casa, sobressaltado. Fui ao meu quarto e dirigi-me à frente do espelho. Ele iria dar-me a resposta! Coloquei-me à frente e olhei. Olhei novamente, com mais atenção. Não havia nem um contorno, nem um mísero reflexo meu. Reflectido no espelho só estava o meu quarto, impávido e sereno.
Estranhamente aliviado, fui até à janela e debrucei-me a vislumbrar o pôr-do-sol. A minha demanda acabara. Senti-me feliz por saber a resposta e, assim, durante horas, que podiam ser anos, fiquei calmamente debruçado na janela a ver o espectáculo do mundo, em todo o seu esplendor e beleza.
Pois bem, o que sou? Nada.

“Sábio é aquele que se contenta com o espectáculo do mundo” Fernando Pessoa
Fábio Santos

3 comments:

*Juaninha* said...

oi....td bem?
sou a joana (11ºD, as vezes mando.te sms) e encontrei o teu blog por acaso qnd tava a ver o blog da Sara.... e resolvi dar uma espreitadela e comentar...

o texto ta fixe...profundo...leva-nos a pensar o que realmente somos e qual o nosso propósito nesnte mundo...

mas como já uma vez de disse, naquele dia na biblioteca, filosofia não é o meu forte (apesar de ter 16 lol)

e também gostei da frase de José Saramago...

eu também tenho um blog, mas ja nao costumo escrever nele...

agora escrevo em 2 fotologs que tenho, se quiseres também espreitar:

www.fotolog.com/juana_jc

www.fotolog.com/animal_lovers

bjinhs =)

freespirit said...

obrigado pela visita :)

jito

Anonymous said...

ola*

bem, esta minha visita surgiu a partir da nossa conversa fabito, mas eu continuo na minha...tu es um miudo extraordinario nem que me venhas com estes textos espetacularespara tentares argumentar a tua opininao. de resto, prefiro dizer-to a ti**

parabens pelo texto**

beijinhos