Como outras que na minha vida passam, também tu passaste.
Mas foste tu quem realmente vi.
Solitariamente no percurso do meu olhar.
Única na racionalização que fiz de ti, do que me deste a entender. Racionalização apenas como apreensão na memória das características sublimes em ti que me aprisionam ao amor obrigatório da tua existência.
Amo-te porque me sinto bem ao pé de ti, porque gostaria de me sentir assim durante muito tempo, que tu estivesses ao pé de mim o máximo de tempo possível.
Filipe - Tenho o terrível defeito de exteriorizar as minhas emoções que são desencadeadas por outra pessoa.
Sofia - Isso é um defeito?
Filipe - É, tendo em conta que mesmo desencadeadas por outra pessoa, essas emoções são minhas e sendo minhas deixam de ter em contexto a outra pessoa. O que quero dizer é que me obrigo a amar a pessoa que me faz sentir assim, como se ela fosse em si mesma as minhas emoções. E as minhas emoções correspondem apenas a mim, satisfazem unicamente a necessidade que há em mim em preencher um certo vazio.
Sofia - Então quer dizer que tu gostas de mim porque decidiste que querias gostar de mim. Não foi mérito nenhum meu que te fez gostar de mim. Desculpa... mas isso não me faz sentir amada.
Filipe - Tu despertaste em mim emoções que me fazem sentir bem. Mas eu decido se quero continuar a tê-las ou não. Posso decidir que não te quero, mesmo sofrendo sabendo que não posso assim continuar a ter as emoções que me fizeste experimentar. O teu mérito é existires apenas. Achas que tens mérito nisso? Acho que temos mérito em sermos como somos. O amor livre não te faz sentir amada? Sentias-te mais amada se te dissesse que os meus impulsos bioquímicos impulsionados pela tua beleza ou fabulosa maneira de ser não me deixaram outra alternativa que não amar-te? Isso seria ser teu escravo. Não gosto desse amor em que se sofre perdidamente e que só assim é verdadeiro o sentimento.
Sofia - Não foi isso que quis dizer...
Filipe - Diz-me então o que te faz sentir amada.
Sofia - Não te sei explicar. Mas parece que me amas apenas para suprir uma necessidade como outra qualquer.
Filipe - A prova de que não necessito realmente de ti é o revelar-te assim cruamente o que considero ser o amor. Podia entrar aqui com lirismos enfeitados e ficar à espera que ficasses rendida, mas não. Disse-te claramente o que penso. E é por isso que é um defeito meu exteriorizar a quem amo que a amo. Porque na revelação crio uma distância entre os dois, e o que devia acontecer era eu fazer precisamente o contrário.
Sofia - Isto é confuso!
Filipe - Não me amas pois não?
Sofia - Não sei...
Filipe - Sinto-me estúpido por te ter dito, sinto-me estúpido por gostar de ti.
Batia com um enorme estrondo, que fazia ranger as paredes e o tecto e, por vezes, acelerava o meu coração a um ponto vertiginoso. Era uma porta estranha, tem de se dizer. Alternava entre a euforia tresloucada e a calmaria contagiante. Eu ficava ali, especado, a olhar horas e horas para a porta, vendo a sua transfiguração completa; a sua superfície lisa escondia inúmeros segredos, que eu nem me atrevia sequer a tentar desvendar, o homem não é mais do que a soma dos seus segredos, pois estes sempre carregam o que é genuíno e puro. Eles são a verdade que nós nunca saberemos (de que vale procurar a verdade?). Porém, por mais segredos que aquela porta possuísse, eu não conseguia parar de a fixar, havia qualquer coisa que me prendia a ela, que me aspirava os pensamentos e emoções. Era inegável, pelo menos para mim, que havia um elo de ligação entre nós. Como um homem também se mede pela sua coragem, assim me têm dito, num momento de descontracção, avancei para a porta, determinado a saber o que havia por detrás dela. Esse mistério eu tinha de resolver. Deslizei a mão pela sua superfície, assimilando os seus segredos, com mil imagens e sensações a entranharem-se no meu corpo, rasgando e unindo, provocando o choro e o riso. Senti-me livremente preso e tristemente alegre e nunca me tinha sentido assim tão vivo! Abri de rompante a porta e a verdade projectou-se nos meus olhos e eu não estava preparado para isso. Do outro lado encontrava-se a minha vida, acenando-me energicamente. Ali estava ela, cheia de tons negros e claros, a transbordar de cheiros divergentes e com diferentes texturas. Era uma vida de contrastes, como todas as outras, mas encontrava-se à minha frente, à espera de que eu a fosse viver. Olhei para trás de mim e só vi o vazio, escuro e monótono. Como escolher entre o refúgio do vazio e os contrastes de uma vida vivida? Como saber optar entre viver e não viver? Quando dei por mim, já tinha passado para lá da porta.
Se Ele é o salvador da pátria, o milagreiro das finanças, o símbolo do autoritarismo do "ouvir e calar", se estamos em Portugal, Ele é o grande português! Com 41% dos votos:
António de Oliveira Salazar!
Eu já tinha referido, noutro post, que a vinda de um novo Salazar seria para muita gente a nossa salvação.
Referi também que tal ideia me entristecia.
Contudo, um programa de televisão vale o que vale, ainda que valha a opinião de mais de 200 mil votantes.
Estes resultados não são sentença nenhuma da história.
Gozemos apenas o facto de se livremente poder dizer que o maior português foi o português que mais liberdade cortou.
Para assinalar o dia de hoje, deixo-vos um dos meus poemas preferidos.
Creio no Mundo como num malmequer, Porque o vejo. Mas não penso nele Porque pensar é não compreender... O Mundo não se fez para pensarmos nele (Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... Eu não tenho filosofia: tenho sentidos... Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é, Mas porque a amo, e amo-a por isso, Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe porque ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência é não pensar...
Mas sofro do que há em mim inexistente, ficcionado.
Fosse esse sofrimento ficcionado também e perderia eu o meu passatempo favorito: passar horas sem fazer nada, ficcionando, criando e sofrendo terrivelmente com isso.
Amo sofrer por mim, pelas minhas histórias mudas de pura reflexão do que há-de ser futuro e do que poderia ter sido passado.
Ficciono o presente com a firme convicção de que se não realizará o que ficciono.
Umas vezes ainda bem, outras ainda mal.
Mas se o presente do mal se realizasse não me faria sofrer mais do que já sofrera. E o presente do bem nunca me exaltará tanto como me exaltei imóvel na reflexão.
Talvez por esta ficção reflectida repetida, o que vivo não seja tão especial como anseio.
Porque sair do que é esteticamente perfeito no bem e no mal e entrar no mundo em que metade fica por dizer e outra metade fica por fazer é colocar-nos à margem das mais intensas sensações.
Procuro, ainda assim, tornar o que vivo o mais especial possível. E o que me alegra é que consigo deixar de ter pena de não estar a reflectir.
E não preciso de álcool ou droga para alucinar. Alucino por mim mesmo.
Ontem, e já hoje de madrugada, foi o meu Baile de Finalistas.
Gostei muito da festinha porque todas as meninas estavam lindas!
Os rapazes também estavam com pinta (à parte eu que parecia um cabide a envergar um fato... não faz realmente o meu género mas também não estava mal de todo :D ).
Dançámos muito, bebemos muito - água também!
São dias (ou noites) como este que ficarão para sempre na memória e saudade destes tempos. Eternamente retidos em fotografias, também, que exibirei neste blogue daqui por uns dias.
Tenho para te contar que o simples facto de não te ter escrito nos últimos tempos a nada de mau se deve. Deve-se apenas à minha incapacidade de reflexão e repouso mental em momentos de euforia. É por isso portanto que te revelo que os meus últimos dois dias foram de alegria extrema, não por motivos excepcionais, mas apenas por exaltação própria da minha personalidade.
Porém a necessidade chamou-me e com ela a minha vontade de te escrever. Porque nenhum momento é feliz se não tiver um pior de comparação que o possa assim qualificar. Porque tive já momentos melhores, descrevo-te este um de puro vazio. De tudo. Emocional, psicológico, reflectivo. Sempre soubeste que as letras são as minhas melhores amigas. E é por isso que te envio estas amigas. Não por pensar que ficarás melhor com amigas minhas, mas por pensar que pensas que ficarei melhor ao enviar-tas.
A chatice, desculpa-ma, a de teres que ouvir lamentações minhas que nem isso são. Enfim, para quê querer dar nome a uma coisa se, de facto, não há um nome que corresponda àquilo que te quero transmitir.
Ouve apenas com atenção isto. Não tomes em nenhum momento as minhas palavras em vão. Não por elas terem alguma coisa de divino, mas porque mesmo nas brincadeiras elas fazem parte de mim, do meu todo. Porque podes tomá-las a brincar e não o serem de facto. É verdade, o meu sorriso pode enganar...
Criaram a Lei Para eu me governar, Mas se viver não sei, Como me posso guiar? Quiseram-na criar Para dar liberdade Hoje só sinto saudade De ser eu a me limitar.
Sinto-me preso Numa Lei livre. E nunca saio ileso Pois há alguém que mo proíbe.
Para sentir a verdadeira liberdade Como eu desejaria Viver numa pura anarquia!
A definição de loucura induz a perda de faculdades no domínio da razão. Porém, na perspectiva do louco, nada há de mais verdadeiro do que o seu pensamento. É curioso quando se repara que muitos dos loucos antigos, o já não são agora. O louco teve a imprudência de expressar as suas ideias fora do normal. Mas hoje até está cientifica ou eticamente provado que ele até tinha razão. Os seus contemporâneos é que são os loucos hoje. Isto para dar a entender que a loucura não padece de verdade. É uma verdade de um sujeito único. Não contextualizada no meio e na época. O poeta louco é remetido para a secção dos “a ter sucesso mortos”. Não são compreendidos no seu tempo. Até que alguém chegue e seja tão louco quanto ele e repare na verdade que se escondeu aquando do seu presente. O louco sente-se à margem. Não comunga do que lhe é ensinado nem do que vive. Procura a sua perfeição. Abate tudo o que aprendeu. Reflecte fechado em si. Cria a anormalidade da sua perfeição. Uma perfeição bela no mundo criado seu. Não tem pudor de revelar a sua perfeição. Considera vergonhosa a normalidade. Há uma metamorfose dos loucos que acontece quando a sua loucura se revela verdadeira. São os loucos que deixaram de ser loucos. O que determina esta metamorfose é o sucesso da sua loucura. Considero Nietzsche um louco do seu tempo. Quem no seu completo juízo defende um eterno retorno? Uma constante transmutação de valores? Quem é que, na sua época, tem a insensatez de colocar a estética à frente da ética no hierarquia de valores? A escrita nitezscheana consegue derrubar tudo o que é tido como certo na sua época. Ainda hoje é louco para muitos. Já não o é para outros. A sua loucura produziu impacto tornando-se verdadeira em quem o segue. É um exemplo de um louco metamorfoseado em alguns. Completamente louco para outros. A poesia é o meio de propagação eterno de uma loucura que se poderá tornar numa verdade.
Algo renascerá Sempre Na música. Com ela. Através dela.
Que terá de tão especial?
O facto de intensificar tanto as nossas emoções como os acontecimentos mais marcantes das nossas vidas. A música. Sempre. Símbolo de criação. Catalisador de criação. Catalisador da conquista
No dia 5 de Março do ano de 1933, o Partido Nazista, sob o comando de Adolf Hitler, ganhou as eleições parlamentares na Alemanha.
Um resultado que marcou todo o século XX.
Que deu início a um período em que se cometeram das maiores atrocidades, obedecendo a uma ideologia cruel congeminada por Hitler e que se encontra escrita no seu livro "Mein Kampf".
Por cá tivemos um Salazar. Com uma ideologia politicamente parecida. Não tão atroz.
Mas privados de uma liberdade de que nunca me vi privado: a liberdade de expressão.
Dou-lhe valor. Muito. Mesmo sem nunca ter tido a falta dela. Agradeço a todos os responsáveis pelo 25 de Abril.
Porém, é com tristeza que oiço, não rara vez, que é um Salazar que nos falta.
Essa figura ainda é por muitos idolatrada, aparece como o salvador da pátria.
O banco de jardim era confortável e acolhedor. Dali se viam as coloridas flores que pintavam o parque, as imponentes árvores que davam a aparência de chegar ao céu e o pequeno lago, também ele com pequenos e irrequietos peixes. Eu estava sentado, descontraidamente, a contemplar todas as cores que os meus olhos absorviam, numa tentativa fugaz de absorver todas as cores do mundo. Era ali que eu me sentava quando estava cansado ou quando procurava uma resposta para a minha vida, se é que se pode chamar vida à minha ingénua existência. Seria, quase de certeza, mais uma das minhas rotineiras passagens por aquele banco, até ela aparecer. Automaticamente os meus sentidos ficaram em alerta e apuraram-se. Apesar de não me conseguir ver a mim próprio tenho a certeza de que a minha cara adquiriu aquele tom rosado que ganhava sempre que ela se aproximava. Vinha ela grandiosa como sempre, com a face a ser constantemente beijada pelo vento. Mas algo estava diferente, havia uma mancha de tristeza na sua face. Deslizando penosamente chegou até à beira do lago, bem de frente para mim, apesar da distância. E após uma observação mais cuidada, reparei que vários fios de lágrimas escorriam dos seus bonitos olhos. Estava profundamente abalada, perturbada, triste, no completo sentido da palavra. Um frio trespassou-me o corpo ao olhar para ela. Ninguém deveria chorar por tristeza, mas somente no mais pleno estado de alegria. Lembrei-me então das astutas palavras de um senhora idosa, quando, um dia, à minha frente, um neto dessa mesma senhora chorava e ela delicadamente lhe dissera que chorar era a “alma a lavar-se”. É impressionante como o tempo faz as pessoas sábias. Subitamente, como se alguém me empurrasse, levantei-me e dirigi-me ao seu encontro. Ela continuava a olhar para o lago, cabisbaixa. Quando cheguei perto, levantou a cabeça. Olhei intensamente para ela, vendo a tristeza a escorrer-lhe pela cara e a maneira incrédula como me fixava, maneira, aliás, perfeitamente normal de observar um desconhecido. Cuidadosamente, passei-lhe a mão pela cara, como quem toca na mais linda porcelana e com o polegar limpei-lhe todas as lágrimas do rosto. Ela continuava a olhar para mim, mas sem a maneira incrédula, parecia apenas mais calma e segura. Quando acabei, lacei-lhe um breve sorriso, ao qual respondeu com um pequeno rasgar dos lábios. E por fim, sem mais alguma lágrima para limpar, ela afastou-se, mirando-me, enquanto o meu coração lhe dizia adeus. Acabei por regressar ao banco, sentando-me novamente. Levantei a cabeça para o céu e passando as mãos pela cara senti os meus olhos húmidos. Talvez devido ao cansaço, ou por não encontrar as respostas para a minha vida, pequenas e suaves lágrimas começaram a deslizar pela minha face. Quem sabe, como dissera a tal senhora idosa, talvez fosse a minha alma a lavar-se. Talvez.
Foi há uns dois anitos que a música clássica me começou a interessar de um modo mais intenso. Precisamente com este concerto visionado numa aula de Filosofia. Desde então, a música clássica tornou-se num dos meus géneros preferidos, com Vivaldi a assumir um lugar de elevado destaque nas minhas preferências.
Obrigado Stor Gomes! Ou devo dizer ai valha-me deus?!
"Não há lei que possa declarar um homem livre, se ele próprio não está disposto a bater-se pela liberdade que lhe deram e a pagar o preço que ela exige - sempre."