Sunday, December 28, 2008

Canções

Corri até à praia à tua procura. Que outro local que não perto do mar para te encontrar? Avistei-te ao longe sentada nas rochas a olhar o teu primeiro amor, indeciso no sentido enche e esvazia a maré. Continuei a correr até chegar a ti, contra o vento que sopraste para me evitar.
Esforcei-me, puxei dos dotes de velocista e atingi-te. Levantaste-te e puseste a descoberto a anatomia externa do teu corpo, os pormenores internos há muito que os conheço sem os ter visto.
Disseste-me,
- Não pertences aqui. Não estás a ser coerente contigo.

Eu nunca fiz nada que batesse certo.

- Alguma vez te disse que gostava de ser coerente?
O mar bateu com mais força numa rocha e molhou-nos. Tu viraste-me as costas e olhaste o sol a cair para lá do horizonte que o perseguia. O ar estava incendiado pelas chamas vermelhas que dele emanavam. Correste e atiraste-te ao mar.
Tive que voltar para trás...

E vem-nos à memória uma frase batida:
Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

Tuesday, December 23, 2008

Caloirada

Como tinha prometido, publico uma foto do meu "traje" na Festa das Latas de Coimbra.

Tuesday, December 16, 2008

Feliz aniversário

O tikritspirit.blogspot.com comemora hoje o seu 2º aniversário.
É com grande satisfação que este espaço é, continua a ser, um certo espelho de mim, de quem escreve, o canto do refúgio ou do encontro.
Deixo uma das minha músicas favoritas :)

Obrigado aos leitores!




Sunday, December 14, 2008

Génio

Nem sempre se consegue que momento e acção se unam em sinergia para a perfeição. Embora tivessem acabado de jantar sob o musical silêncio do tilintar dos talheres que mais não significa que a ausência da palavra tenha todo o significado do mundo.
- Sim, amor, estou aqui. - Pensa ele como que para sempre.
Mas a magia do silêncio é ser quebrado pela palavra certa e que palavra poderia ele usar ali? Sofia estava deitada de lado no pouf, agarrada ao seu Mickey gigante que lhe oferecera a avó num Natal longínquo, de costas para ele.
Filipe serpenteia-lhe o corpo com o olhar e extasia-se. Que a vontade súbita que dele se apoderou tem mais força que qualquer gravidade do universo.
- Sofia, faz amor comigo.
Ela olhou-o rodeando apenas a cabeça, deixando o corpo à mercê do desejo.
- Se também querias, porque não disseste nada?
- A genialidade está em quem dá o primeiro passo.

Tuesday, December 9, 2008

Está frio!

Ontem, fui a casa. Há alguns anos que a minha casa é o mundo e é-me estranho chamar casa a um espaço limitado por quatro paredes e um tecto. Abri a porta com a mesma curiosidade com que uma criança abre um presente de Natal, com a simples diferença de que não quero escavacar a porta como a criança faz com o embrulho. Abri, sim, a porta com o carinho de uma nostalgia pelo passado, das recordações daquele tempo que se atenuam em quantidade pelos anos mas em que as que se preservam parecem ficar cada vez mais nítidas.
Limpei os pés num tapete velho antes de entrar para as divisões interiores, inspirei fundo o cheiro a mofo entranhado nas paredes e que intoxicava o ar. Já era de noite, pelo que me sentei no sofá velho da sala a tentar descortinar as estrelas que se escondiam no nevoeiro. Lembro-me de todas as vezes em que ignorei as obrigações de estudante por sentir que aquele mesmo olhar que estava a ter poderia de súbito ensinar-me algo muito mais grandioso.
Se houve alguma lição a reter, foi ter aprendido a descobrir-me.
Adormeci no sofá, no quentinho de duas mantas com que a mamã me costumava cobrir.
Hoje penso no significado do dia de ontem: será que faço aquilo com que sempre sonhei fazer quando olhava as estrelas? Nunca fui muito exigente comigo, deixei-me sempre levar pelas oportunidades que a vida me deu. Nem sei que pensar objectivamente sobre as emoções que me invadiram no noite de ontem.
A Ana ligou-me há pouco:
- Que estás a sentir por regressar a casa?
- Está frio!

Friday, November 21, 2008

Túnel

- Quem está aí?
Ninguém respondeu ao som interrogativo proveniente da sensação de ter ouvido alguma coisa a aproximar-se. Porque nem sempre são pessoas a responder às nossas dúvidas, há coisas que por si só são resposta.
Deixou de se ouvir. Talvez tivesse sido apenas mais uma das vontades do vento em fazer cair coisas para o assustar. Continuou com o olhar fixado no céu, as estrelas cada vez mais brilhantes, brilhavam mais sem dúvida. Estaria o túnel lá em cima, as estrelas bem lá ao fundo, as luzes ao fundo do túnel seriam para ele uma incapacidade de atingir?
Olhou para o relógio, 23 horas e 55 minutos.
Desta vez ouviu passos. Olhou para o lado e apareceu-lhe um vulto, um homem baixo e gordo,
- Que fazes aqui sentado a esta hora?
- Estou à espera da morte. Talvez faltem 5 minutos para ela chegar.

Monday, November 10, 2008

Repetições

A mão branca e dextra que escrevia, com um anel preto da Bijou Brigitte, paralizou ao som da palavra. Trémulas sensações lhe subiram à voz:
- Que disseste? Quero que o repitas.
- Há coisas que só se podem dizer uma vez. A repetição leva à futilidade.

Sunday, October 19, 2008

Coimbra



Orgulho em fazer parte da maior Academia de Portugal!

Ode a Coimbra e ao curso fantástico que é Medicina.

A Latada vem aí ;)

(Se a vergonha não for muita, publicarei fotos do cortejo com a vestimenta apropriada...)

Saturday, October 11, 2008

Inútil

- Assim se passa um dia de inutilidade.
Filipe olha Sofia surpreendido pelo desabafo murmurado. Sofia prossegue o desenho a carvão do gato estendido em cima do tapete e que nas horas frias de Inverno lhe costuma tão confortavelmente aquecer os pés.
Pesado, levanta-se Filipe da cama e, depois de abrir a janela do quarto de Sofia, fuma inspirando bem fundo o vapor emanado do seu cigarro.
- Há inutilidades que me fazem útil.

Friday, October 3, 2008

O que farei

O ideal que me trouxe esmorece-se na rotina

Que enfrento feliz para não esquecer

Quem sou e o que quero ser e fazer

De mais e melhor que fazer só medicina.

Saturday, September 27, 2008

Presentes

O olho que abre e vê pede ao outro para abrir também. Não conectado com o redor, cerram-se ambos na escuridão.
Que as visões interiores se processam do modo que quer.
Inclina o tronco, pousa a testa sobre os braços que estão assentes na mesa. Recorda feliz a casa de onde veio, inseguro sente a casa para onde vai. O passado que deixou, o futuro que vai chegar. Presente, pudesse ele continuar parado no tempo, felizmente infeliz por nada ter a conquistar. Desassossegado, o livro que ele quer ler, que lhe ensina a viver na arte do despojamento. Do nada sentir ao conquistar, do pouco sentir em perder.
Um braço vence, o outro é derrotado. Que bela há sem senão?, a filosofia e ciência que comigo caminham de mãos dadas para que senão me levam?
Move uma das pernas qual ciclista sentado, impulso nervoso movido pela ansiedade, saltitam falangetas em cima da mesa.
Um lábio quer sorrir, o outro fecha o sorriso que mata.

Sunday, September 21, 2008

Um sonho numa caixinha

O banco de jardim sentado na calçada disse-me que durante anos observou o miúdo que saltava para a árvore das caixinhas.
Havia caixinhas de chocolates, rebuçados, brinquedos, sucesso, muitas caixinhas! Mas a caixinha que ele queria estava bem alto na árvore; era a caixinha do sonho.
No chão, estava caída a caixinha da vida mas o pequeno rapaz ignorou-lhe a importância, porque já estava ali, era demasiado fácil, demasiado aborrecida a tarefa de apenas ter a vida na mão.
Então saltou, saltou. Demorou anos a crescer o suficiente para que os seus saltos chegassem bem lá ao cimo da árvore, conseguindo retirar a caixinha desejada e abrindo-a extasiado.
Perguntei ao banco: E depois? O que aconteceu?
Ele abriu a caixinha e teve o sonho na mão. O vento levou o sonho. Ele ficou com a vida e correu atrás do vento.
(kiss me kiss me... we're just like superstars)
David Fonseca a inspirar-me :D

Friday, September 19, 2008

Regresso

Um ano após ter festejado neste mesmo espaço o meu ingresso no ensino superior, no curso de Matemática Aplicada e Computação do Instituto Superior Técnico em Lisboa, informo os leitores deste blog que o Freespirit é agora estudante de Medicina na Universidade de Coimbra.
Depois de um ano turbulento internamente, à procura de um rumo, vou tentar retomar com frequência a edição de posts.
Não só porque quero ressuscitar o blog mas também porque considero importante humanizar-me mais ainda para poder ser um bom profissional na especialidade que quero: (e a vida dá tantas voltas que poderei mudar de gosto :)) psiquiatria.
É a que conjuga mais os meus gostos e potencia as minhas facetas.
Até breve!

Friday, April 18, 2008

Intuição

Fechar a porta ao que não é exacto impede o caminho ao que está além.

Intuitivamente falando.

Wednesday, April 9, 2008

Céu estrelado

O sol desenhado pela mão do criador
desfez-se em estrelas menores na hora de Satanás. A lua encheu-se, de coragem, e espreitou o mundo.
O vento assobiou nos sinos a melodia da morte. O ar arrepiou-se com o que envolveu.
A romaria ao templo movimentava-se silenciosa, a deusa observava a oferenda que ia receber.
Chegada ao templo, a multidão quedou-se para ver. Esperaram imóveis ao frio da noite. Todo o ano que se seguiria dependia daquele momento.
Ele, o rei, apareceu primeiro. Esperou de pé ao pé do leito rodeado pela multidão.
Ela, a sacerdotisa sacrificada, saiu do templo em direcção ao rei.
Uma fogueira rodeou o leito e os escolhidos. O rei pela hierarquia, a sacerdotisa pela honra. A multidão, do lado de fora do círculo de fogo, assistia ao espectáculo.
Rei e sacerdotisa despiram-se, copularam ofegantes pela deusa.
O rei sorridente pelo acto divino deixava agora que o ritual prosseguisse. A sacrificada ajoelhou-se nua ao pé do leito, uma foice levantou-se, a multidão olhou inquieta, a foice baixou em rápido e forte movimento, a cabeça saltou, o sangue jorrou e o ritual ficou completo.
A deusa satisfeita ordenou que os solos fossem férteis durante um ano.
O ritual colocou a ordem no mundo até que um dia alguém se atrevesse a desafiar a verdade do mito.

Monday, March 31, 2008

Apocalíptico

Estridente o som que grita a montanha
Desfeita em pedaços piroclásticos
Que nos rodeiam incendiados.

A lava escorre laranja e lenta
Destrói a Terra à passagem
Constrói o planeta de ninguém.

Sobrevivi ainda não para sempre
À chaga que Deus enviou, Noé
Sou eu o novo inundado de lava.

E o tempo que não pára
Quer-me findado de vida.

E a causa do fim será mistério
No futuro, meteorito ou vulcão?

Que me tapem as rochas de outras
Que no futuro serei dinossauro!

Friday, March 21, 2008

Espera digital



A luz focou brilhante o dia

Aguardado para assinalar

A data e hora esperados.

Um dedo num botão

Simplicidade do acto

Atender e falar.

Eu esperei inútil uma voz

O Sol brilhou o dia todo

O crepúsculo quedou-se

E tu nunca atendeste.

Tuesday, March 18, 2008

Vocal

Hora morta pela vontade, pela falta dela, que tardou em aparecer ofegante no vaguear das ruas semipreenchidas. O olhar centra-se para dentro inóspito do que o rodeia. Mecanizado no passeio, cinge-se à trajectória que lhe tomam os pés, indiferente à Teoria dos Grafos, que lhe desculpe Euler, não interessa quantas vezes passa pelo mesmo lugar se aquele mesmo lugar lhe apetece atravessar muitas vezes.
Filipe passeia o seu diletantismo natural, surdo às vozes que o rodeiam, para ele a voz não serve para regatear, fazer birra ou conversar sobre o vazio. Também não sabe para que serve bem, ridículo por concluir sem argumento, é assim que chegamos à maior parte das nossas conclusões. Porque queremos que assim seja.
Tropeça na entrada da livraria, bem feito, só quer ler e não comprar, pega nos livros de sempre e folheia e pudesse ele encontrar a página a que anseia no momento!
Sai e prossegue o caminho. Uma mão o toca no ombro, um sorriso se estende nas faces, não há consanguinidade corpórea, mas há-a da alma, Filipe e Sofia.
E abraçam-se.
E usa a voz.
E diz que a ama.

Saturday, March 15, 2008

Pedra Filosofal - António Gedeão (o poema)



Aladas as formas que imaginadas

Dão antítese ao real vazio

Que mergulha cedo em sombra

Das ideias pobres choradas.

Triste de troféu em punho

Sinal de não satisfação da vitória

Que a conseguida não permite

A felicidade da história.

Se o canto do viver é sonhar

E a natureza dos dias é assim

Estejam os meus perto do fim

Ou viverei a cantar.

Saturday, March 8, 2008

As coisas

Há dias em que se decidem fazer arrumações. Na casa, quarto, vida, estante.
Dizemos que arrumamos quando colocamos as coisas no devido lugar. Mas não é raro acontecer que, ao arrumar as coisas, as haja que mereçam ser postas de lado e tratadas como lixo.
- Esta coisa estorva-me. Já a tenho há tanto tempo...
- Que vais fazer? Pô-la no sótão ao pé das outras coisas antigas?
- Esta vou deitar fora. Enquanto precisei dela, usei-a muitas vezes. Tantas que agora está tão gasta que já nem me apetece usar.
- É injusto para a coisa.
- É o que se faz às coisas de que se não precisa. Deitam-se ao lixo.
E assim se tratam as coisas.

Friday, February 29, 2008

Mitológico

Trazidas do Olimpo as perguntas, deificadas, lhes não sei responder. Perturbado, suplico ao oráculo a ajuda que não me sei dar. Apolo, não me negues Delfos! A beleza corporal de deus não te disfarça a sabedoria, se dela és divindade, cede-me por ora a tua voz terrestre.

Apolo
"- Toco a lira da perfeição
Em melodia recatada,
Timbre da meditação."

Pretendo viver, deus da perfeição, ao ondular das notas da lira, mas vagueante, não como um Diógenes sentado ansiando apenas que lhe não tapem a sombra.
Sou mortal de natureza, tenho o dobro da mortalidade de Diónisos, que é meio mortal mas não morre, e sigo-lhe a virtude da embriaguez entusiástica quando dou por mim nos devaneios paradisíacos. Orar-te-ei no ditirambo! Declamarei, tocarei e cantarei em honra de ti as poesias líricas que idealizarei!

“Espírito saciado
Honro-te grande a virtude
De euforia ser saúde,
Ó meu deus embriagado!”


Mas apenas te farei o louvor ao que da poesia lírica se confere, comigo não contes se para os bacanais me tencionas convidar. É da euforia lírica que espero receber o prazer, o da mente, que o do corpo a mim mo reservo no seio recatado do meu lar.
Clamo a Artemis que desça do Olimpo para me dar a luz de artista que tendo a perder na solidão dos meus dias!
Afasta-te Afrodite, o teu amor por mortais não o quero que tenhas por mim, deixa-me só!
Só com a vontade, a minha vontade única de ser alternado, de me estilhaçar em pedaços de ser.

Rendido à emoção e, na consciência de mim só, esfíngico da verdade.

Saturday, February 9, 2008

Prateleira

O sofá que me acolhe o estado febril incita-me à meditação, não oriental que mais pareço "ser de" ou "estar a" leste, que se tem mantido afastada de mim. A televisão trouxe-me a verdadeira história, ou o que de real pensam ter descoberto dela, da última família real russa, o último czar Nicolau e a sua prol Romanov. O mistério do seu fim será provavelmente o que os mantém em grande parte vivos.
Terei que ser misterioso para viver eterno?
A história de Anastacia sabia-a eu de uma videocassete visionada em criança, mas vê-la ali real trouxe-me algo de mágico. A relação verdade-ficção é das coisas que mais me delicia a mente e os sentidos, ou hormonas. Curiosa a camponesa polaca que se quis fazer passar por Anastacia. Porquê querer ser outra pessoa? Objectivo de se tornar eterna?
Retorno ao quarto e sento-me na cadeira que me põe um globo terrestre defronte ao olhar. Rodo-o. Pudesse eu escolher onde estar neste momento!
Talvez escolhesse algum lugar dos livros que estão na estante aqui ao lado.
Percorro as prateleiras e recordo os imensos mundos que já vivi na leitura. Quantas vidas se escondem em páginas? Estará a minha também nestas prateleiras?
Fecho os olhos para escolher uma vida, estendo o braço e seguro um livro.
Vou abri-lo, a minha vida está aqui.
Vou viver.

Tuesday, January 15, 2008

Celestial

Corpo celeste energia radiando
Ofusca estrelas de menor intensidade
Vive outros mundos maiores criando
Sacia-se imaginando perfeita realidade.

Estrelas de cinco vértices formatadas
Vivem radiando à velocidade da luz
Querem mas não podem ser admiradas
Ignorantes que a velocidade as reduz.