Thursday, April 26, 2007

Contornos desnecessários

Estrada recta do objectivo
Contornada por nós sem saber
Com o dobro do tempo perdido
Na chegada ao destino prazer.

Curvamos a recta linha
Sem saber do que fazemos
Ou sabendo mal do que existe
Medo do prazer que temos.

Wednesday, April 18, 2007

Liberdade Infinita

De onde vieste mendiga
De mim alheado
Volta sem retorno.

Não procures em mim
O que necessitas de intimidade
Não te posso dar.

Sou livre e quero que o sejas
Sem mim em liberdade
Comungaremos em união.

Thursday, April 12, 2007

A Tragédia - O Remédio

Sofia - Que tédio! Hoje não se faz nada...
Filipe - Dizes isso todos os dias. Tenta encontrar alguma coisa que te faça sair desse tédio.
Sofia - E fazê-lo todos os dias? Estar sempre à procura de algo diferente passa a ser por si uma rotina.
Filipe - É verdade... O que é preciso para não se viver em tédio?
Sofia - Para mim tédio é a sensação de não ter nada para fazer nem sequer apetecer fazer alguma coisa ou coisa nenhuma. É estar sem emoções sequer.
Filipe - Se morresse alguém não seria um tédio.
Sofia - O que estás a dizer? Prefiro estar em tédio.
Filipe - A tragédia destrói o tédio...

Monday, April 9, 2007

Sono no tempo

Sono nocturno me espera
Após sonolentas horas diurnas
Que não me deixam sequer dormir...

Friday, April 6, 2007

6 de Abril

Rafaello Santi teve a curiosidade de nascer em 1483 e morrer em 1520, precisamente no dia 6 de Abril em ambos os casos.

Foi pintor, arquitecto, político e investigador da cultura clássica.

Criou várias obras de pintura ao seviço do Papa Júlio II e do sucessor Leão X.

Era conhecido em Roma por ser humanista e um pensador neoplatónico.

Ao lado, está uma das obras de Rafaello, denominada As Três Graças.






Data também deste dia, no ano 1564, a invenção do lápis.
Foi na Inglaterra que se fez esta preciosa invenção: o meio secundário, que o primário sou eu, das minhas criações escritas (vai sendo substituido irremediavelmente pela caneta e até mais pelo teclado, mas foi com ele que comecei).
Não é ouro mas vale ouro.
É que se os átomos de carbono da grafite estivessem organizados de outra forma seriam diamante!
Há com cada coisa, não há?

Wednesday, April 4, 2007

Espelho sem reflexo

A minha alma é feita de um pano cheio de buracos. Numa noite de céu estrelado, deitado sobre a relva, a ser abraçado pela natureza no seu estado puro e enquanto mirava os astros, surgiu-me a maior e mais complicada dúvida de toda a minha vida: o que sou? E ao decidir não descansar até saber a resposta, o meu corpo entrou em plena exaltação, ao ver uma oportunidade de combater o (muito) tédio do meu quotidiano.
No dia seguinte comecei a minha demanda, a minha cruzada. Mas como começar? Não queria ouvir, mais uma vez, que sou o resultado de uma brilhante expressão dos meus genes ou se sou o fruto de uma criação divina, de um Deus que nunca tive o prazer de conhecer. Estas eram respostas para o meu “eu” físico, orgânico. Não eram as respostas que pretendia. Eu queria saber o que verdadeiramente era o “eu” vivo e racional, agente de um espaço e de um tempo. Decidi perguntar às outras pessoas o que eu era, pois são os outros que nos moldam e limitam e como seres também racionais, deveriam saber dar uma resposta. Perguntei, questionei, argumentei, confidenciei. Algumas pessoas ignoraram-me, outras olharam-me com desconfiança, outras chamaram-me doido e as poucas que me tentavam responder, criavam um discurso vazio e falacioso. Portanto, nada de respostas.
Um dia, ao voltar para casa cansado, reparei num pequeno lago que reflectia a luz do sol. A minha mente iluminou-se num rasgo e comecei a correr desenfreadamente até casa, rogando pragas ao universo por, no meio de tanta perfeição, não ter notado que o Homem, que tudo pode ver, não se consegue ver a si próprio. Cheguei a casa, sobressaltado. Fui ao meu quarto e dirigi-me à frente do espelho. Ele iria dar-me a resposta! Coloquei-me à frente e olhei. Olhei novamente, com mais atenção. Não havia nem um contorno, nem um mísero reflexo meu. Reflectido no espelho só estava o meu quarto, impávido e sereno.
Estranhamente aliviado, fui até à janela e debrucei-me a vislumbrar o pôr-do-sol. A minha demanda acabara. Senti-me feliz por saber a resposta e, assim, durante horas, que podiam ser anos, fiquei calmamente debruçado na janela a ver o espectáculo do mundo, em todo o seu esplendor e beleza.
Pois bem, o que sou? Nada.

“Sábio é aquele que se contenta com o espectáculo do mundo” Fernando Pessoa
Fábio Santos

Destino Nocturno

Noite,

Peço desculpa a indelicadeza de não te tratar por querida, amiga ou excelentíssima. É que não sei bem que relação mantemos na realidade. Até a segunda pessoa do singular me retrai um pouco ao comunicar-te mas usar outra que não essa como sinal de respeito não é senão falsidade pois nem tal substantivo comum abstracto mantemos.
A cumplicidade que nos une é igual à distância que nos separa pois se sou cúmplice sou distante. Não revelo segredos a quem conheço. Já nem falo em quem me conhece na dúvida que persiste de que haja alguém que efectivamente me conheça. O segredo é necessidade minha de revelar em sentido lato o que em sentido claro me afecta e tal é unicamente possível se a alguém que não faça relações de passado causal ou adjectivações de valor for revelado.
Quem é meu amigo não pode contar em guardar segredos meus porque não os de minha boca saberá.
Escrevo-te sem saber para onde enviar tais palavras pois os correios não trabalham de noite e de dia a tua morada sendo do outro lado do mundo a língua em que me expresso não é compreendida.
Não sei bem sequer quem és, não decorei a estética física de ti nem colocas as estrelas e lua sempre com a mesma bela aparência. Sei que és muda e que de surda tens pouco. Agrada-me a tua irracionalidade. Pois só com tal conjuntura de factores de personalidade e físicos atributos poderias ansiar pelos meus pensamentos que não são para serem respondidos ou pensados sequer, ouvidos apenas, sob pena de em caso contrário haver o erro de uma interpretação errada do que digo que não merece tampouco ou tão pouco interpretação.
Beijo vazio.

Tuesday, April 3, 2007

Pensamento do dia

"Uma coisa é o amor, outra é a relação. Não sei se, quando duas pessoas estão na cama, não estarão, de facto, quatro: as duas que estão mais as duas que um e outro imaginam."

António Lobo Antunes

"Braveheart"




Música fantástica!
A minha companheira nos maus momentos, a que me faz ficar pior, no desespero das emoções, de qualquer uma.
Uma grande amiga.
A fruição da música é obrigatória!
O vídeo é interessante.

Monday, April 2, 2007

Esperança

Triste do homem sem esperança
Que morre no tempo que avança
Sem qualquer divina aliança.

A esperança é a fraqueza do homem
Que procura fora a ajuda
Que não existe se não em nós.

Esperança mata a realidade da vida
Cruel, maldita, vil sofrida
Com certeza de futuro mentida.

Feliz do homem sem esperança
Que no desespero das emoções sofre
Ou estoicamente a vida vive.

Ser estóico se não quiser sentir
Ou desesperar de emoções se preferir
Mas sem esperança que é mentir.

Sunday, April 1, 2007

Dia das Mentiras

Dedico este post a todos os poetas que como o Fernando Pessoa fingem a dor sentida pelos leitores.
Porque a dor do autor e a dor do leitor são distintas, e o que as separa é a barreira invisível do que é imaginário e real.

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa