Monday, March 31, 2008

Apocalíptico

Estridente o som que grita a montanha
Desfeita em pedaços piroclásticos
Que nos rodeiam incendiados.

A lava escorre laranja e lenta
Destrói a Terra à passagem
Constrói o planeta de ninguém.

Sobrevivi ainda não para sempre
À chaga que Deus enviou, Noé
Sou eu o novo inundado de lava.

E o tempo que não pára
Quer-me findado de vida.

E a causa do fim será mistério
No futuro, meteorito ou vulcão?

Que me tapem as rochas de outras
Que no futuro serei dinossauro!

Friday, March 21, 2008

Espera digital



A luz focou brilhante o dia

Aguardado para assinalar

A data e hora esperados.

Um dedo num botão

Simplicidade do acto

Atender e falar.

Eu esperei inútil uma voz

O Sol brilhou o dia todo

O crepúsculo quedou-se

E tu nunca atendeste.

Tuesday, March 18, 2008

Vocal

Hora morta pela vontade, pela falta dela, que tardou em aparecer ofegante no vaguear das ruas semipreenchidas. O olhar centra-se para dentro inóspito do que o rodeia. Mecanizado no passeio, cinge-se à trajectória que lhe tomam os pés, indiferente à Teoria dos Grafos, que lhe desculpe Euler, não interessa quantas vezes passa pelo mesmo lugar se aquele mesmo lugar lhe apetece atravessar muitas vezes.
Filipe passeia o seu diletantismo natural, surdo às vozes que o rodeiam, para ele a voz não serve para regatear, fazer birra ou conversar sobre o vazio. Também não sabe para que serve bem, ridículo por concluir sem argumento, é assim que chegamos à maior parte das nossas conclusões. Porque queremos que assim seja.
Tropeça na entrada da livraria, bem feito, só quer ler e não comprar, pega nos livros de sempre e folheia e pudesse ele encontrar a página a que anseia no momento!
Sai e prossegue o caminho. Uma mão o toca no ombro, um sorriso se estende nas faces, não há consanguinidade corpórea, mas há-a da alma, Filipe e Sofia.
E abraçam-se.
E usa a voz.
E diz que a ama.

Saturday, March 15, 2008

Pedra Filosofal - António Gedeão (o poema)



Aladas as formas que imaginadas

Dão antítese ao real vazio

Que mergulha cedo em sombra

Das ideias pobres choradas.

Triste de troféu em punho

Sinal de não satisfação da vitória

Que a conseguida não permite

A felicidade da história.

Se o canto do viver é sonhar

E a natureza dos dias é assim

Estejam os meus perto do fim

Ou viverei a cantar.

Saturday, March 8, 2008

As coisas

Há dias em que se decidem fazer arrumações. Na casa, quarto, vida, estante.
Dizemos que arrumamos quando colocamos as coisas no devido lugar. Mas não é raro acontecer que, ao arrumar as coisas, as haja que mereçam ser postas de lado e tratadas como lixo.
- Esta coisa estorva-me. Já a tenho há tanto tempo...
- Que vais fazer? Pô-la no sótão ao pé das outras coisas antigas?
- Esta vou deitar fora. Enquanto precisei dela, usei-a muitas vezes. Tantas que agora está tão gasta que já nem me apetece usar.
- É injusto para a coisa.
- É o que se faz às coisas de que se não precisa. Deitam-se ao lixo.
E assim se tratam as coisas.