Tuesday, May 29, 2007

Chuva e vento

Cabelo pelo vento despenteado.
Não gostas do capricho natural
Mas que podes tu contra ele?

Se o vento te leva o cabelo
A chuva lava-te a alma
E acabamos abraçados.

Saturday, May 26, 2007

FCP Campeão


(Jessica, Tânia, Freespirit, Joele e Cátia)
Campeões! Tardiamente, é verdade, mas não podia deixar de postar um momento tão bom como este.
A culpa da demora é da Tânia! Ela é que se esqueceu de me enviar as fotos!

26 de Maio

No ano de 1976, no dia 26 de Maio, morreu o filósofo alemão Martin Heidegger.
Foi um dos filósofos principais do século XX.
Seguidor de uma filosofia existencialista em que o problema da relação sujeito-objecto é, para ele, centrado essencialmente no sujeito.
O facto da sua vida que o torna menos popular será talvez o rompimento de uma relação amorosa que manteve com a sua aluna Hannah Arendt, uma teória política de origem judia, devido à ligação de Heidegger com o Partido Nazista de Adolf Hitler.
"Nunca chegamos aos pensamentos. São eles que vêm."

Wednesday, May 23, 2007

Retina objectiva

Olho a objectiva que me fixa
Me prende em visão de imagem e objecto
Retina conotativa parcial do que demonstro ser
Errada, mas onde está o erro se imagem é o que parece ser?

Tuesday, May 22, 2007

Horizonte inseguro

O abismo separa o seguro do desconhecido
Mas que desconhecido é esse do sonho?
Se em perigo as ondulações nos tremem
E o infinito a visão assusta?

Sunday, May 20, 2007

20 de Maio


No ano de 1806 neste mesmo dia 20 de Maio, em Londres, nasceu John Stuart Mill.
O seu pai, James Mill, pretendia que o seu filho se tornasse num génio intelectual e educou-o de tal forma rigorosa que Stuart Mill aos 3 anos já sabia o alfabeto grego, aos 8 aprendia latim e álgebra, estudava autores clássicos que só eram estudados nas universidades naquela época. Foi com essa idade, também, que foi nomeado tutor dos elementos mais jovens da família. Aos 12 anos, lê os tratados de lógica de Aristóteles no original.
Aos 18 anos, Stuart Mill descreve-se como uma "máquina lógica".
Sofreu crises de auto-estima durante quase toda a sua vida.
Desempenhou funções como economista, mas a sua importância assume-se nas suas teorias filosóficas.
Escreveu o livro "Um sistema de lógica" em que refere cinco métodos de indução.
Escreveu também "Utilitarismo" que o tornou célebre pela teoria que defende que as acções devem ser julgadas pelas consequências que produzem e que a melhor acção é a que traz maior bem-estar ao maior número de pessoas.
Durante a sua vida, Stuart Mill condenou a visão que se tinha da relação homem-mulher que era sinónimo de mestre-escravo e a proibição de divórcios com base na incompatibilidade de feitios.
Discordou da ideia de seu pai que defendia que a razão tinha um papel passivo no conhecimento com base no estímulo externo, defendendo, pelo contrário, o papel activo da razão.

Thursday, May 17, 2007

Eu Sei - Papas da Língua





O horizonte é longe demais
É a distância que nos separa
Os metros que não queres encurtar.

A confidência que nunca tivemos
Apazigua a dor.
As palavras são frágeis,
Mas são o único meio que temos de nos expressarmos.

Tuesday, May 15, 2007

Chuva que não molha

- Não tens medo?
Chove como se todas as portas do céu se tivessem aberto, como se alguém bem lá de cima ordenasse um segundo dilúvio para exterminar a corrupção do homem, ser que tanto tem de beleza como de destruição. Talvez este segundo venha acabar o que o primeiro, infelizmente, não conseguiu. É uma chuva que não molha.
- E o que tem sido a nossa vida a não ser medo? - respondo-lhe enquanto ela me olha com uns olhos cansados, que transparecem a sua pobreza de espírito, a chama da vida há muito que a abandonou, prolongando-lhe o calvário de uma vida que não soube ser vivida, nasceu morta. Ela treme, com as mãos por cima dos joelhos e, bem ao meu lado, olha pelo vidro do carro para a cascata que se está a desabar sobre o mundo, e que faz estremecer o veículo, à medida que eu acelero, com as gotas sonoramente a rebentarem no tejadilho. Ao longe começa-se a ver o mar, não o que está a precipitar-se sobre nós, mas o que já lá estava, no encontro com a terra. A falésia de onde víamos o pôr-do-sol infinitamente, atravessa-se no seu caminho, como um precipício de fim líquido.
- Tens a certeza?
Ela está nervosa, já sofreu tanto que receia sofrer ainda mais. E eu a pensar que a única coisa que tive sempre foram as minhas dúvidas, nenhuma certeza adquiri na minha existência, vagueei apenas pelas ruas da incerteza, que me bloquearam os sentidos e me impediram de sentir. Inconsolado, e deixando uma mão no volante, a outra procura a dela e quando estas se encontram assimilam-se num aperto estonteante, selado para a eternidade, nunca morreremos um para o outro.
- Eu já nasci com esta certeza! Todos nós! Não te preocupes, vai correr tudo bem.
A falésia encontra-se bem à nossa frente e o mar a rugir lá em baixo. Não paramos. Não é tempo para parar, mas para seguir em frente, o que vier, virá. Começamos a voar enquanto o carro, impulsionado pela gravidade, é engolido pelas águas em fúria. Olhamos um para o outro e acenamos afirmativamente, voltaremos a encontrar-nos.
- Até já!
Não estamos molhados; quem esteve seco tanto tempo nem se molhará no último instante. Não conseguimos respirar e tudo fica negro, é o fim de um ciclo, e o que importa, somos finalmente livres. Aqui onde tudo acaba, onde tudo principia, não há medo.
E lá fora a chuva continua a cair, sem molhar.

Fábio Santos

Monday, May 14, 2007

Silêncio labial

Fala em voz de silêncio
A vibração dos lábios que te exprimem
Não ao ouvido mentiras
Mas nos meus lábios verdades.

Saturday, May 12, 2007

Pedro, não pedras

O que me vês na expressão?
Face séria de gravidade imperturbada pela tua presença, sei-me eu alheado do que me rodeia, mas que sabes tu se não vês o que sinto ou penso?, e ainda assim me qualificas de pensativo.
"Mas as palavras são pedras.", disse Vergílio Ferreira. E são pedras se ditas ou pensadas. E se dizes ou pensas que estou triste ou alegre é uma pedra que dizes ou pensas e com ela te enganas que não sabes o que sinto ou penso, imaginas pensando ser verdade a conclusão que retiras da minha expressão corporal.
Defines-me de simpático, inteligente, parvo, irritante, estúpido, divertido e encerras tudo o que sou ou pensas que sou num saco de palavras estático, arrepiante de tanto me encolher do que sou, que não demonstra a capacidade de me explodir e semear os estilhaços que me renascerão todos os dias e que me faz ser o inverso da coisa estática que são as palavras, e de cada estilhaço crescerá um ser diferente dependendo das características do solo que o acolhe, pois de cada solo cresce o ser que se lhe adequa melhor.
Sou um estilhaço perdido. Há-os outros de mim por aí. E sou-os quando deixo de ser este que sou agora. Mas nunca Uno, sempre o estilhaço que ecoa a vibração da explosão primeira.

Thursday, May 10, 2007

Enevoada


Deusa da névoa iluminada
No elemento da vida mergulhada
Que me vês olhando-te a crescer
O corpo e mente que quero ter.

Tuesday, May 8, 2007

Onde estavas?

Onde estavas quando disse que amava mais o que me está longe?
Estavas surda de indiferença?
Hoje sei-a verdadeira a sentença das minhas palavras se com solidão me habituei a viver, a mim e a mim me habituei a amar...

Monday, May 7, 2007

Distanciamento

A distância entre nós alonga
No impedimento da fala
Que constróis.

Ensinou-me a Física
Que com a distância diminui a força.
Algo de nós fraqueja.

Que fracas são as relações com outros
Se com as minhas comigo comparadas
É que eu sei sempre o quero receber...

Sunday, May 6, 2007

Verdade (in)consciente

Que louco supõe na morte a fuga eterna do mundo inverso ao real que toma a sua vida sem consentimento livre - inequivocamente voluntário? O consciente ou o inconsciente? Em todo o caso, qualquer louco consciente é inconsciente. Pois se admite a loucura de ser amplamente diferente do padrão instituído - que não raras vezes o afecta no plano sentimental, não sendo feliz na loucura -, não poderia conscientemente iludir-se - talvez tornando-se mais louco... - e criar um mundo conscientemente ilusório que o fizesse feliz? Pena que o louco sacrifique a sua felicidade em prol da absorção total da verdade que institui para si.
Filipe, O Louco, se fosse rei teria um cognome, vê na morte o fim. Da loucura e outras diabruras verdadeiras ou não, racionais ou pelos sentidos apreendidas. É consciente da sua loucura e toma por elogio que tal sorte o tenha assombrado. Quantas vezes sorriu, em cima da ponte, da terrível percepção da verdade que o faz feliz e infeliz, instantaneamente - porque múltiplo é ele e de multiplicidade vive -, troçando das verdades que criadas por si, e pelos outros, consegue assassinar em segundos de queda breves banhados de sangue vermelho vitorioso de para ele deixar de haver verdade.
Pois que verdade tem valor sem sujeito?
Pois que sujeito tem valor inferior a qualquer verdade?

Friday, May 4, 2007

A inútil imposição do silêncio

- Sh! Sh! Sh! Tens de aprender a estar calado!
“Já começa!”, pensa ele, ciente do que se tornou a sua vida, passada no eterno silêncio de quem não pode falar, não vá sair disparate da sua boca e da sua ingénua mente.
- Está calado! Não abras a boca!
Mandam-no calar e ele obedece, não pensa porque no pensar está o demónio à espera de nos possuir e envenenar os pensamentos e acções. E que medo tem ele de falar, de pensar! Quem o ouvisse dizer que se o Diabo é a face oposta da mesma moeda de Deus Nosso Senhor e, se Deus é perfeito, então perfeito também é o Diabo, tornava-o num louco. Além de não o deixarem falar, não lhe falariam. Ao que isto chegou: estar mudo de pensamentos para poder ouvir os dos outros.
- Cala-te! Não digas nada!
Mas quem são eles para o mandar calar? Sentado, sozinho, naquela sala, ele é dono de si mesmo. Porquê ter medo? Donde vêm tantos receios?... De lado nenhum, é o medo que ele a si próprio impõe. Se é livre por que não fala? É a hora de falar! Levanta-se da cadeira, olha para a brancura da sala vazia, enche os pulmões e, numa oposição ao que lhe dizem, sai pela porta da sala, e abre a boca:
- Agora é a minha vez de falar! Ouçam-me!
Fábio Santos