Friday, February 29, 2008

Mitológico

Trazidas do Olimpo as perguntas, deificadas, lhes não sei responder. Perturbado, suplico ao oráculo a ajuda que não me sei dar. Apolo, não me negues Delfos! A beleza corporal de deus não te disfarça a sabedoria, se dela és divindade, cede-me por ora a tua voz terrestre.

Apolo
"- Toco a lira da perfeição
Em melodia recatada,
Timbre da meditação."

Pretendo viver, deus da perfeição, ao ondular das notas da lira, mas vagueante, não como um Diógenes sentado ansiando apenas que lhe não tapem a sombra.
Sou mortal de natureza, tenho o dobro da mortalidade de Diónisos, que é meio mortal mas não morre, e sigo-lhe a virtude da embriaguez entusiástica quando dou por mim nos devaneios paradisíacos. Orar-te-ei no ditirambo! Declamarei, tocarei e cantarei em honra de ti as poesias líricas que idealizarei!

“Espírito saciado
Honro-te grande a virtude
De euforia ser saúde,
Ó meu deus embriagado!”


Mas apenas te farei o louvor ao que da poesia lírica se confere, comigo não contes se para os bacanais me tencionas convidar. É da euforia lírica que espero receber o prazer, o da mente, que o do corpo a mim mo reservo no seio recatado do meu lar.
Clamo a Artemis que desça do Olimpo para me dar a luz de artista que tendo a perder na solidão dos meus dias!
Afasta-te Afrodite, o teu amor por mortais não o quero que tenhas por mim, deixa-me só!
Só com a vontade, a minha vontade única de ser alternado, de me estilhaçar em pedaços de ser.

Rendido à emoção e, na consciência de mim só, esfíngico da verdade.

Saturday, February 9, 2008

Prateleira

O sofá que me acolhe o estado febril incita-me à meditação, não oriental que mais pareço "ser de" ou "estar a" leste, que se tem mantido afastada de mim. A televisão trouxe-me a verdadeira história, ou o que de real pensam ter descoberto dela, da última família real russa, o último czar Nicolau e a sua prol Romanov. O mistério do seu fim será provavelmente o que os mantém em grande parte vivos.
Terei que ser misterioso para viver eterno?
A história de Anastacia sabia-a eu de uma videocassete visionada em criança, mas vê-la ali real trouxe-me algo de mágico. A relação verdade-ficção é das coisas que mais me delicia a mente e os sentidos, ou hormonas. Curiosa a camponesa polaca que se quis fazer passar por Anastacia. Porquê querer ser outra pessoa? Objectivo de se tornar eterna?
Retorno ao quarto e sento-me na cadeira que me põe um globo terrestre defronte ao olhar. Rodo-o. Pudesse eu escolher onde estar neste momento!
Talvez escolhesse algum lugar dos livros que estão na estante aqui ao lado.
Percorro as prateleiras e recordo os imensos mundos que já vivi na leitura. Quantas vidas se escondem em páginas? Estará a minha também nestas prateleiras?
Fecho os olhos para escolher uma vida, estendo o braço e seguro um livro.
Vou abri-lo, a minha vida está aqui.
Vou viver.