Wednesday, February 21, 2007

As Intermitências da Morte

Nesta madrugada acabei de ler o livro que comecei a ler na manhã de ontem: "As Intermitências da Morte" de José Saramago.
É uma perspectiva interessante do que aconteceria se a morte deixasse pura e simplesmente de matar.
Aquilo que porventura será e terá sido um dos maiores desafios da humanidade, em todo o sempre, não se revela tão benéfico como poderia, à primeira vista, pensar-se que seria.
Gostei da preocupação da icar (Igreja Católica Apostólica Romana) quando se deixou de morrer, porque havia um grande problema: sem morte, a icar deixava de fazer sentido, porque a ressurreição - que é o maior ou único trunfo da icar- não é possível sem se morrer primeiro. Descobre-se (se é que já se não sabia) que a icar é uma religião não da vida, mas da morte.
Perspectivando na minha pessoa, estou em crer que a tendência é que a morte mate cada vez mais tarde. Vencendo a barreira que deus expressa na Bíblia, barreira essa que diz que o Homem nunca viverá mais de 120 anos...
O Homem deve sempre encontrar meios para que nunca se morra. O Homem deve ter a liberdade de querer morrer ou não. E se tal for possível, porque não? Se for possível não morrer por causa da velhice, o Homem será muito mais livre. Se quiser morrer, tem a liberdade de se matar.

9 comments:

Anonymous said...

fico muito contente por teres lido o livro, já tinhamos falado sobre ele. Sem dúvida, foi um dos melhores livros que li nos últimos tempos, ainda para mais sendo do saramago.
e por acaso gostei bastante da parte em que "ataca" a igreja. parece-me também claro que as religiões, todas elas, existem para dar uma resposta para a morte, porque nós a tememos e não sabemos lidar com ela. Temos sempre a tendência para temer o que não conhecemos...

(ah, já agora, vou começar a ler o "ensaio sobre a cegueira", que me parece impecável :D)

abraço

Nury said...

o homem desde sempre foi curioso e questionou-se sobre todos os assuntos desde a criação do universo, a vida, a morte, o que há para além disto, porque existimos até tantos outros que a nós hoje em dia nos parecem tao simples e explicaveis. a igreja e as outras religiões usaram isto para se afirmar, é de salientar que todas as religiões tem uma explicação "que lhes convem" a estas duvidas.
e na maioria teem um milagre em que alguém ou algo venceu a morte..isto simboliza poder da igraja kuanto á ordem normal das coisas..
a morte para a igreja é uma passagem, é o que está escrito na biblia, nao sei se acredito ou nao..é um assunto que nunca me preocupou mt..

mas nao sou a favor de nunca se morrer..a pessoa tem um tempo, aproveita-o e escolhe na altura serta. caso nao se morresse
1ºnao podia haver mais nascimentos, não haveria mais espaço.
2º quando algo é demasiado serto a pessoa torna-se demasiado egoista e ganancioso..pois deseja sempre mais..
e ofim de ter a vida eterna o que pode kerer mais?..

Vítor Amado said...

O sentido da icar não é reducionista como dizes; se leres outros textos teológicos, verás que não é uma religião da morte, mas da vida. Aconselho, entre outros, o texto de João Paulo II "Carta Enciclica de João Paulo II sobre o valor e a inviolabidade da Vida Humana".
Abraço

Constança said...

"maiores desafios da humanidade" acho que nunca passará de um desafio.. porque a humanidade é mortal é proprio da natureza e acho que é quase impossivel ir contra a natureza...
apesar de que adorava ser imortal :P de poder "quebrar" a natureza..

:plool

bjinhos**
(e depois passa no meu)

Unknown said...

Que importante se julgam os homens para quererem ser eternos!! Sem ler o livro, e só por este relato, parece-me escrito por alguem que se apercebe que já passou o limite de validade, mas julga-se tão importante, que quer continuar por cá muitos anos...

Anonymous said...

Vitor, entendo o que o tikrit quer significar e, agnosticismo (meu) à parte, quer-me parecer que a verdadeira vida que a igreja defende existir, só é atingível após a nossa morte física.
Penso portanto não ser uma visão reducionista chamar-lhe de "religião da morte".
Sabes que existem outras (minoritárias, mas muitas) religiões que glorificam a vida enquanto a vivemos (fisicamente)...
Se estivesse virado para a crença obviamente escolheria uma dessas. ;-))

freespirit said...

Stor,
a vida humana, para a icar e como foi para João Paulo II, é inviolável porque o mandamento diz: "Não matarás". Porque se matar, sofrerá consequências após a morte. Tudo o que a icar incita a fazer durante a vida tem como objectivo único purificar uma alma que sofrerá um juízo após a morte. As consequências do que se faz virão sempre, nos juízos de Deus, após a morte. É por isso que lhe chamo "religião da morte".

Pedro Miguel,
querer ser eterno é um sonho, realizável ou não, é um sonho. E para se sonhar não é preciso ninguém julgar-se importante. Eu sonho sempre que me apetece e sou apenas o Pedro que nem licenciatura tem nem frequenta sequer a universidade.
Não entendo esse passar o limite da validade. Pois eu acho que o seu prazo nunca acabará. Porque deixa uma obra e a obra vale pelo autor. O Prémio Nobel, ainda assim, vale o que vale. Sem ler o livro, não faço juízos.

abraço.

Ai meu Deus said...

A "prova" mais evidente de que a ICAR é uma religião da morte é o seu símbolo máximo: o Cristo crucificado.

É curioso que esse Cristo (a crermos nas escrituras sagradas) ressuscitou. No entanto, o símbolo da ICAR não é o Cristo ressuscitado, mas o Cristo morto. A morte.

Anonymous said...

é um bocado desagradável dizer que um autor só por abordar este tema, sente que passou o limite de validade e julga-se importante :D

saramago-que até é um ateu assumido-por tudo o que é e pelo que escreveu ( pronto, estou a defendê-lo porque é o meu autor favorito) já "comprou" de qualquer maneira a eternidade logo não precisa de se preocupar com o limite de validade.